Aprender e aplicar, aprender e aplicar... (parte 1)
01 de abril de 2025

Já escrevi bastante aqui sobre a importância de desenvolver habilidades e construção de responsabilidade. Tudo isso é bastante útil, mas muitas vezes, e eu compreendo quando os pais me dizem isso, no dia a dia os conceitos podem ficar meio nebulosos, um tanto difíceis de acessar.
A solução pra isso, a meu ver, recai sobre duas frentes: treino e educação. Treino é repetição, não tem pra onde correr. É fazer, fazer, fazer. É a experiência de vida mesmo, construída a partir de uma atitude consciente e sincera da busca pela melhora. A educação é promovida através do que estamos fazendo aqui. Leitura, debate, estudo, reflexão. Ou seja, aprender e aplicar, aprender e aplicar.
Hoje, eu pretendo deixar essa parte de organização de pensamento um pouco mais fácil. A ideia é delimitar 3 campos onde a gente pode de forma mais esclarecida atuar com as crianças. Na disciplina positiva isso é chamado de “habilidades e percepções significativas”. Não se aflita, caro(a) colega, vamos construir juntos não só os conceitos em si, mas também algumas formas práticas de colocar isso pra funcionar na sua rotina. Afinal, é aprender e aplicar, certo?
Vamos começar falando sobre as habilidades pessoais. Elas são tudo aquilo que a criança tem em seu arcabouço pessoal para navegar operacionalmente pela vida. É o que ela sabe fazer, de fato. Isso abrange uma infinidade de áreas da vida, não se engane. Pode ser desde lavar louça, arrumar um aparelho quebrado ou conseguir subir no brinquedo do parquinho.
A melhor maneira de ajudar seu filho a desenvolver esse tipo de habilidade é, sempre que possível, ensiná-lo a fazer as coisas e deixá-lo colocar isso em prática. Se você quer ensinar ele a guardar a roupa, deixe que ele faça isso, mesmo que no começo saia mais uma bagunça do que de fato um resultado “correto”. O aprender a fazer toma tempo, requer suporte e confiança. Verbalize para ele com todas as letras e em alto e bom som “você consegue, eu confio em você!”. Não tire dele a oportunidade de fazer por si mesmo, dê a ele os momentos necessários para tal. Isso desenvolve nele um senso de empoderamento saudável. O objetivo é ela internalizar a crença: “eu sou capaz”.
O segundo âmbito que gostaria de apontar é o senso da importância dele nas relações. A criança se beneficia muito quando entende e percebe que contribui, que constrói junto, que é valoroso para as relações que tem. Ele entende que é necessário para o todo e luta para continuar sendo por toda a vida. O importante aqui é ele saber, de verdade, que é importante porque contribui. É a consciência de seu lugar de utilidade.
Uma forma de desenvolver isso é apontar para ele quando ele está ocupando esse lugar. “Obrigado por guardar as coisas”, “obrigado por me ajudar”, “você fez isso muito bem, que legal, obrigado por contribuir”, “que legal que você fez sua parte”, são bons exemplos de como fazer isso chegar até ele. Outra maneira é envolvê-lo na construção de alguma coisa, como fazer um bolo para a família, e depois reconhecer que ele fez parte disso (“olha só pessoal, o bolo que o fulano me ajudou a fazer! Ele bateu a massa e colocou na forma. Ficou ótimo!”). O objetivo é ela internalizar a crença: “eu contribuo e sou necessário”.
O terceiro âmbito a ser observado aqui é a senso de que ela pode influenciar a própria vida. É importante para a criança aprender que ela não só sabe fazer as coisas pelos outros, mas também por si mesmo. Essa percepção irá ajudá-lo a ter o impulso e a certeza de que tem a vida nas mãos, de que é plenamente capaz de dirigir a própria existência.
A gente exercita isso neles quando dá opções de escolhas para a criança no próprio cotidiano dela, respeitando os caminhos que ela tomar. É muito comum a gente ver pais delimitando o curso do filho o tempo todo, mesmo tendo a intenção de ajudar. “Não suba por aí, tente esse lado que é mais fácil”, “não brinque dessa forma, faça assim que é melhor”, quem nunca disse coisas assim? Mas, isso não ajuda ela a construir o próprio caminho. Dê escolhas para ela, dê liberdade para que possa desbravar por si mesmo as benesses e consequências da vida. Uma ferramenta bem bacana pra isso é as “escolhas limitadas”. “Filho, você quer usar essa ou aquela camiseta?” (para mais detalhes sobre essa técnica, basta ler outros textos já escritos aqui). O objetivo é ela internalizar a crença: “eu posso influenciar o que acontece comigo”.
De forma bem resumida a gente entendeu nesse texto 3 pontos importantes a serem desenvolvidos na criança: o saber fazer de fato, o fazer pelo bem dos outros e o fazer pelo bem a si mesmo.
O mais legal desse tema é que ainda existem outros 4 âmbitos a serem explorados, mas isso vai ficar para outro texto. Vamos um passinho de cada vez.
Não se esqueça, amigo(a) pai/mãe, de aprender e aplicar. É assim que criamos hábitos saudáveis. E é dessa forma que ensinamos nossos filhos a crescerem de forma efetiva. A gente ensina, eles aprendem, a gente aplica, eles (com olhos de admiração) aplicam junto.
Henrique Costa Barros (CRP: 06/210223
Psicólogo Clínico e Educador Parental do Vivência e Convivência
@psi_henrique.costa