• Av. Padres Olivetanos, 475, Vila Esperança - São Paulo/SP
  • Av. Padres Olivetanos, 475, Vila Esperança
    São Paulo/SP

"Convencer ou não convencer?"

03 de julho de 2025

Gostaria de conversar sobre um assunto que, se bem esclarecido, deve acalmar muitos pais. E eu entendo as razões disso. Mas vamos lá, um passo de cada vez. 

Hoje eu vejo os pais em geral com uma atenção mais acentuada na criação dos filhos. Isso que dizer que a gente se preocupa mais nos “comos” e “porquês” da nossa prática. Ou seja, a gente quer sim acertar, tomamos um caminho mais amoroso, paciente e menos violento. 

Essa nova postura, porém, pode acabar trazendo alguns impasses que a gente está tendo dificuldade de transpor. E isso é normal, cada geração teve seus ossos para roer. Gostaria de trazer um deles hoje para refletirmos.

Digamos que a criança precise fazer algo, como tomar banho. Antigamente talvez os pais mandassem o filho fazer isso e, caso ele não fosse ou não quisesse, o problema era facilmente “resolvido” através de ameaças ou um tapa. Hoje, pensamos diferente. Não queremos bater e nem fazer nenhum tipo de terrorismo. 

Para contornar a situação, conversamos. Tentamos de tudo, às vezes. Tentamos explicar, barganhar... em alguns casos dá certo. Mas, algumas dinâmicas não tão saudáveis podem acabar se estabelecendo. 

Um outro exemplo aqui muito comum em condomínios é os pais chamando a criança para subir para casa. Já viram ou viveram isso? O pai chama, a criança diz que não quer. E aí ele fica tentando explicar, e ela não quer. Dali um tempo, de novo, e ela não quer subir. Isso cria um looping infinito. “Eu chamo, mas ele não quer!” 

Bom, vou dar uma notícia aqui que talvez te alivie: você não precisa convencer seu filho. Simples assim. 

Às vezes, na tentativa de sermos amorosos, a gente perde a mão um pouco e acaba achando que não pode haver ordem e hierarquia. O que não é verdade. Eles precisam disso na criação deles. Isso quer dizer que, pelo menos para algumas coisas, não precisa haver negociação nenhuma com a criança. Algumas coisas simplesmente precisam acontecer, e “ponto final”. 

Isso quer dizer que você precisa ser violento? Não! Não existe essa necessidade de violência. É possível sim ter controle da situação e não ser cruel. 

Algumas dicas, nesse mesmo exemplo do condomínio: digamos que a criança precisa subir dali 10 minutos. O cuidador pode avisar a criança com antecedência do que vai acontecer e permitir que ela se prepare. Avise com 10, 5 e 1 minuto antes. Quando o tempo acabar, diga que irão subir e que ela pode escolher como ir pra casa (se correndo ou andando, se de elevador ou de escada...). 

Ao sinal de protestos em qualquer uma das etapas, pode-se dizer “eu sei que você não quer subir, e ainda assim iremos pra casa na hora que nosso tempo acabar”. Não precisa gritar, basta dar estrutura. 

Se na hora de subir ela descompensar, pode-se simplesmente pegá-la no colo e levar. Não há necessidade de que ela concorde em subir. O que é necessário é uma postura assertiva do adulto. 

Isso vale para qualquer coisa. Pode pensar aí qualquer problema, e ainda assim é possível manter-se calmo, mas firme. Gentil, mas assertivo.

E por que essa conversa é importante? 

Nós não podemos perder de vista o papel de cada um na dinâmica familiar. É nosso papel dar a estrutura, fazer o que é preciso, compreender o tempo das coisas, e não dá criança. Ela não é uma “criança difícil” ou “birrenta” por não querer parar de fazer aquilo que lhe dá prazer. 

Ela está fazendo o que sua natureza permite e consegue: ser criança! 

Criança é movida por desejo. É papel do adulto dar lugar à razão e organização durante o dia.

E gente, cá pra nós, que razão consegue competir com o desejo da criança? Nenhuma! Ou seja, você não vai conseguir convencê-la a todo momento. Então, se for te aliviar (e eu acho que vai) pode abrir mão desse fardo. 

Você não precisa convencer sua criança o tempo inteiro.

Libertador né? Eu sei.

Henrique Costa Barros (CRP: 06/210223)
Psicólogo Clínico e Educador Parental do Vivência e Convivência
@psi_henrique.costa