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“Tap in – tap out”: uma substituição sutil necessária

08 de maio de 2025

“Tap in – tap out”: uma substituição sutil necessária

A criação de uma criança envolve um caminhão de demandas. É muita coisa mesmo, sem dúvida. Existe toda a questão financeira, de organização do cotidiano, a exigência emocional, o tempo investido em atividades diversas. 

Fazer isso sem apoio nenhum é um esforço absurdamente maior. É quase impossível. Infelizmente, muita gente (via de regra, mulheres) precisa fazer isso sozinha ou com uma rede de apoio bem reduzida. Toda nossa solidariedade à essas pessoas, de verdade. 

Para aquelas pessoas que contam com uma parceria em casa e/ou com uma rede de apoio mais sólida o trabalho fica mais leve, mas não necessariamente fácil. Bom, esse é o cenário, pessoal. Fácil, pelo menos o tempo todo, nunca vai ser. 

Ok, até aqui sem nenhuma novidade. O que se pode fazer para deixar isso tudo um pouco mais tranquilo? Vou apresentar para vocês uma ferramenta chamada “tap in – tap out”, ou, aportuguesando e adaptando o termo, podemos chamar de “substituição sutil necessária”. 

Ok, então imagine um cenário bastante incomum nas casas: um momento difícil com o manejo da criança e um dos cuidadores começando a perder a cabeça ou não dando conta da demanda (contém muita ironia no “incomum”, como você certamente percebeu). 

No momento em que a coisa começa a escalonar e/ou perder a objetividade da resolução, um outro cuidador que não esteja envolvido no problema entra em cena e substitui o que que estava tentando manejar antes. É literalmente trocar um pelo outro quando a coisa está saindo de controle. Simples né? mas vamos explorar mais. 

Primeiro, a ideia da troca é que o manejo seja o melhor possível, visando a resolução de um cenário. Quando o problema do manejo começa a crescer demais, o adulto começa a gritar, ceder de maneira disfuncional, perder a objetividade e a criança não consegue engajar na solução, a mudança das peças envolvidas se faz fundamental. Um outro adulto de cabeça fria e com menos envolvimento emocional no problema tem muito mais capacidade de lidar com aquele pequeno caos e atingir o que se precisa. 

Aqui, portanto, não é sobre a “autoridade” do primeiro cuidador, sobre uma “manipulação” que a criança esteja fazendo ou coisas assim. Claro que existem casos e casos, mas a ideia central é oferecer o melhor caminho possível para uma resolução satisfatória. A maneira como isso é feito importa muito também. Aliás, é primordial. Por exemplo, em muitas famílias existem a cultura de um interferir no manejo do outro de forma, digamos, “disfuncional”.

As vezes uma mãe está tentando fazer seu filho guardar os brinquedos conversando com ele, mas está tendo uma certa dificuldade. Nesse momento, o pai entra e começa a ser mais autoritário ou falar mais alto com a criança. Aqui, o processo que estava sendo feito antes pela mãe (sem entrar no mérito de estar correto ou não) é brutalmente interrompido, ela pode interpretar aquilo como uma falta de respeito do pai para com ela, a criança pode ficar confusa e perder a linha de raciocínio, dentre outras coisas. 

Um outro cenário é quando uma criança bate em outra e um cuidador esteja sendo mais enfático que o necessário com ela, causando até certo medo. O outro do nada chega, pega a criança no colo e começa a falar coisas como “está tudo bem, você não fez nada demais, vamos ali tomar um sorvete”. Imaginem o tanto de problemas que isso pode causar para todo mundo. 

Muito bem, a “substituição” pode ocorrer exatamente em momentos como esses, quando aquele que está de fora percebe que o cuidador envolvido pode não estar em seus melhores dias, fica em seu lugar e traz um novo gás para a resolução. 

Mas, calma. Tem regras para isso. Sim, pequenas regrinhas que podem ajudar vocês no processo de troca, exatamente para que não ocorra nenhum mal-entendido. Vamos a elas: 

1- Combinar um sinal não verbal a ser usado para que ambos saibam que a troca precisa existir (pode ser um toque específico no ombro, por exemplo);
2- Aquele que será substituído não deve levar a troca para o lado pessoal, vendo isso como um ataque ou limitação de seu papel, por exemplo;
3- Aquele que entra promete manter-se calmo e resolutivo o tempo todo (ou até que se faça necessária a troca novamente) 

Então, seguindo essas regrinhas ambos estão no mesmo lugar, com a mesma intenção, alinhados e dando o suporte necessário que a família precisa. 

A ideia aqui parece simples. E realmente é. Mas, a gente precisa se atentar para os problemas que algumas dinâmicas podem trazer. O alinhamento é necessário e muito produtivo para a família e quebrar isso constantemente pode dar para a criança a impressão de instabilidade, por exemplo. Além do que, essa quebra do espaço do outro pode minar o relacionamento entre as partes. Não só pai e mãe, mas também com os avós, tios e por aí vai. Conseguir fazer as trocas no momento certo pode facilitar muito os manejos mais complicados. Afinal, juntos vamos mais longe, não é?

Henrique Costa Barros (CRP: 06/210223)
Psicólogo Clínico e Educador Parental do Vivência e Convivência
@psi_henrique.costa